A agropecuária brasileira cresceu e destacou-se internacionalmente pelo volume e a qualidade de sua produção em dezenas de itens, desde grãos, biocombustíveis e frutas até fibras e proteína animal.
Este avanço deu-se, principalmente, por evolução tecnológica e científica, como mostram os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nos quais a produtividade por hectare multiplicou-se por praticamente quatro nos últimos 40 anos.
O aumento da área também foi relevante, na ordem de 70% na agricultura em comparação com o início dos anos 1980. Desde então, novas áreas foram abertas ou viram as plantas substituírem gado no Centro-Oeste brasileiro e na região do Matopiba, acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Contudo, apesar da dimensão continental brasileira e a preservação de cerca de 66% de seu território, a abertura de novas áreas pode não ser a melhor alternativa, principalmente, por questões ambientais e fundiárias.
Por isso mesmo, diversos empreendedores agrícolas brasileiros já cruzaram fronteiras para países como Paraguai e Bolívia a fim de cultivar soja, milho e outros produtos a partir das técnicas já validades com grande sucesso no Brasil.
Até aí, não há novidade. No entanto, poucos planejam levar o “agronegócio brasileiro” para outros países da América do Sul, como é o caso da Guiana Britânica, e até mesmo para a África, em países como Angola, Moçambique e Congo. Tecnicamente, apesar de especificidades, a agricultura tropical brasileira poderia, sim, ter boa adaptação.
Desenvolvido ao largo de quase 50 anos, o conjunto de tecnologias que, hoje, faz do Brasil o terceiro maior produtor de grãos e o segundo maior exportador de alimentos do planeta, é mais aderente às características edafoclimáticas destes territórios além fronteira.
Mas não se trata apenas de área e condições técnicas para explorá-las. Os governos de alguns desses países apoiam e, mais do que isso, incentivam a chegada de empreendedores para viverem algo parecido com o “milagre do agro” brasileiro. É o caso da Guiana Britânica.
Guiana Britânica: “terra de graça”
No ano passado, por exemplo, o Ministro da Agricultura da Guiana, Zulfikar Mustapha, revelou estar realizando reuniões com potenciais investidores brasileiros no setor agrícola.
De fato, o país tem um plano estruturado para estimular e receber investimentos estrangeiros na agropecuária em um expressivo território junto às fronteiras dos estados de Roraima ou Pará.
O preço da terra é substancialmente mais baixo que no Brasil e, em determinadas situações, pode ser concedido gratuitamente ao investidor com sede no país.
O documento “Agricultural Investment Prospectus: Grow with Guiana” (Prospecção de Investimento Agrícola: cresça com a Guiana, em tradução Livre), publicado no ano passado, detalha as oportunidades no agro do país.
“Enquanto passa por uma rápida transformação econômica, a Guiana optou por investir em infraestrutura e condições que facilitem o crescimento do setor agrícola. Convidamos você, investidor, a entender as tremendas oportunidades disponíveis na Guiana e as razões convincentes para ingressar na evolução do país”, diz o documento.
A Guiana tem um total de 21,5 milhões de hectares com clima tropical e topografia dotada de solos férteis para diversas culturas. Inclusive, o setor agrícola no país já é um importante player, contribuindo com cerca de 16% para o PIB em 2020 e responde pela exportação de US$ 1,8 bilhão em produtos lácteos anualmente.
Em termos de possíveis empreendimentos, o setor agrícola da Guiana oferece tem oportunidades em abatedouros e frigoríficos, enlatados e embalados de frutas e vegetais, pecuária, produção de milho e soja, laticínios e derivados, fazendas integradas, processamento de carne, fazendas orgânicas, suinocultura e criação de aves, produção de rosas, processamento de frutos do mar e peixes e processamento de coco com valor agregado.
“Fortalecer ainda mais o potencial da indústria agrícola com forte apoio do governo visa garantir que a agricultura continue a ser uma das principais prioridades para garantir uma economia diversificada”, diz o documento.