Com a chegada do período de seca adiantado, produtores rurais de Mato Grosso do Sul já enfrentam os efeitos da falta de chuva que vem impactando as condições das pastagens. Com receio de ver a pequena criação de gado leiteiro morrer, criadores do assentamento Sucesso, localizado em Nova Alvorada do Sul, pedem socorro para alimentar os animais.
Situado na BR-163, no quilômetro 419, cerca de 80 famílias residem nas terras localizadas na região de sul do Estado, onde a maioria tira seu sustento da terra, se dividindo entre a produção agrícola e pecuária, como Anestor Pereira da silva, de 50 anos.
Pequeno produtor, ele trabalha há 17 anos com a criação de gado leiteiro, contudo, enfrenta dificuldades com a falta de chuva na região que já impactou o pasto, deixando seus 33 animais enfraquecidos pela falta de vegetação em boas condições. “A gente já está desesperado aqui com as criações, em tempo de morrer de fome”, lamenta.
O trabalhador rural faz um apelo para ser disponibilizado um transporte que faça o frete entre o município de Rio Brilhante e a propriedade localizada em Nova Alvorada do Sul. “A gente, não quer dinheiro, é o fretamento de uma caçamba, para buscar um resíduo que a gente conseguiu nesse secador de grãos, por um preço que podemos pagar”, relata o assentado.
Da Silva explica ainda que o volume de leite produzido não é muito, e foi reduzido drasticamente devido à condição climática. “Agora mesmo está zerando o leite, o que a gente quer é pelo menos manter as vacas da gente viva, e para isso necessitamos de um frete para buscar o resíduo”, reforça.
Com a produtividade variando entre 25 e 30 litros de leite, o produtor rural revela que toda sua criação, que soma 33 cabeças entre pequenos e grandes animais, é financiada e por isso depende de sua produção para manter o sustento da família.
“Nós temos ligado aqui para a Prefeitura de Nova Alvorada do Sul, para os responsáveis que tomam conta dos caminhões, mas não recebemos nenhuma atenção, nenhum retorno até o momento. Enquanto isso, o medo de perder tudo só aumenta”.
O trabalhador ainda destaca que outros assentados do assentamento Sucesso, que trabalham com plantio de hortas, recebem ajuda do poder público, contudo os que atuam com a criação de gado estão desassistidos em meio ao período de estiagem, que está apenas no início.
“Eu gostaria que a Prefeitura de Nova Alvorada fizesse com a gente o mesmo que está fazendo com o pessoal da horta, que graças a Deus contam com o caminhão aqui três vezes por semana para puxar a verdura”, conta Anestor Pereira.
O criador que administra o negócio junto a esposa lembra que todo ano situação semelhante acontece com a chegada do período de seca, sendo que no ano passado perdeu três cabeças de vacas devido às condições das pastagens. “A Terra da gente aqui é cerca de 7 hectares. Aí a gente não tem condições de fazer uma irrigação, não conseguimos preparar o solo”, detalha.
O pequeno produtor encerra destacando que foram 11 anos para conseguir um pedaço de terra e não gostariam de ter que jogar fora a conquista de uma vida por falta de estrutura e incentivo do poder público municipal e estadual. “A gente gostaria de receber um olhar para o nosso lado aqui, que está esquecido”.
Seca
Como já noticiado pelo Correio do Estado na sexta-feira, representantes e especialistas do setor indicam aumento do custo da atividade de agropecuária com o avanço da seca sobre o Estado, sendo necessário investimento em suplementação alimentar.
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Guilherme Bumlai, pontua que a seca chegou antecipada, impactando diretamente os produtores na questão da qualidade das pastagens.
“Com isso, alguns têm optado pela suplementação e aqueles que possuíam gado pronto para abate têm realizado esse abate, alguns antecipando um pouco o abate e outros efetuando a comercialização para diminuir a quantidade de animais no pasto”.
Bumlai frisa que a expectativa para o próximo semestre é que a estiagem permaneça. “Com isso, é necessário ficar atento na parte de água para esses animais. Temos propriedades fazendo investimento em poços, melhorando a rede de água, que é outra grande preocupação, a disponibilidade de água para o rebanho”.
O doutor em Ciências e pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani, analisa como possível a falta de pastagens durante o período de seca já em decorrência. “Daqui para a frente até outubro, quando começam as chuvas, vamos acompanhar a alteração das pastagens. Vamos ter um bom tempo ainda sem chuva”.
Padovani salienta alguns fatores que devem interferir nas condições dos pastos de MS. “Primeiro, a falta de água provocado pela questão climática, em segundo lugar, a quantidade de gado que vai ficar nos pastos que já estão comprometidos com o deficit hídrico. Então, a tendência é, de fato, disso vir a ser um problema para os pecuaristas que devem se organizar para enfrentar o período”.
*A equipe do Correio do Estado entrou em contato com a prefeitura de Nova Alvorada do Sul, porém, não teve retorno até o fechamento da matéria.
Fonte: Correio do Estado