Pepe está com 88 anos, mas, se pudesse voltar no tempo, gostaria de retornar aos 23. Foi com essa idade que ele ajudou o Brasil a vencer sua primeira Copa do Mundo. A conquista, que completa 65 anos nesta quinta-feira (29), é relembrada com carinho pelo ex-jogador que fez história no Santos.
“Era uma seleção maravilhosa, a melhor que já tivemos. A fama do futebol brasileiro mundial começa com esse título”, diz ele ao GQ Esporte Clube em uma conversa por telefone.
A trajetória do Brasil teve na primeira fase foi a seguinte: vitória contra Áustria (3×0), empate contra Inglaterra (0x0) e vitória diante da União Soviética (2×0). Após o empate diante dos ingleses, Feola promoveu a entrada de Pelé, aos 17 anos, na equipe titular, na vaga de Dida. O resto é história.
“Os caras não conheciam a gente. A verdade é que nós também sabíamos pouco de algumas equipes. Mas o Pelé, com 17 anos, surpreendeu todo mundo. Garrincha, a mesma coisa. Os caras ficaram bestas com a nossa seleção. A gente não era favorito em 1958, porque vínhamos de fracassos em 1950 e 1954. Precisávamos dar uma resposta”, explica.
Nas quartas de final, vitória por 1 a 0 conta País de Gales. “É como se diz na gíria do futebol: eles jogaram com 10 atrás e 1 na retranca. Não saíam para nada, só botinada”, brinca. Na semifinal, uma vitória contra a França, uma das favoritas ao título, por 5 a 2. “A França estava ganhando e atuando bem contra todo mundo. Mas, depois desse jogo, nós fomos para a final credenciados como candidatos ao título”. Na grande decisão, vitória contra a Suécia, por 5 a 2.
Pepe lembra que a entrada de Pelé, autor de 6 gols naquela Copa e vice-artilheiro do torneio, e os dribles de Garrincha, deixam os europeus extasiados. “Eram dois extraterrestres. Nós já conhecíamos, porque eles atuavam no futebol brasileiro. Foi algo que não se repetirá em nossa história.” Didi, meio-campista, foi escolhido o melhor jogador do torneio.
O ex-jogador diz que em partidas difíceis, a ordem dentro de campo era dar a bola para Garrincha e Pelé. “O Nilton Santos, que sabia ler o jogo como ninguém, gritava com todo mundo: ‘Joga a bola no Mané!’. Dito e feito: ele driblava três ou quatro pela direita e cruzava para o Pelé na área. Uma pena que ele (Pelé) nos deixou.” Pelé faleceu no fim do ano passado, aos 82 anos, vítima de complicações de um câncer no cólon.
Pepe também fez parte do grupo campeão do mundo em 1962, no Chile. “Era um grupo mais envelhecido, mas muito bom”. Ele diz que o time de 1958 foi o melhor da história do futebol brasileiro. ‘Mas e a seleção de 1970?’, pergunto a ele. “Costumo dizer que, se houvesse um jogo entre os dois times, ficaria 4 a 4”, brinca.
Com mais de 400 gols na carreira e duas dezenas de títulos, o ex-jogador acompanha com doses de ceticismo e esperança o atual momento da seleção brasileira, que não vence uma Copa do Mundo desde 2002 e tem amargado seguidas eliminações para equipes europeias.
“Rapaz, o Brasil segue uma potência, mas é difícil entender o que está acontecendo. Acho que os jogadores poderiam ficar aqui mais tempo, os clubes poderiam segurar mais os jogadores, mas é complicado, porque a grana é alta e cada um tem seus sonhos. Na minha época, era diferente.”
Ele, no entanto, não se opõe a um técnico estrangeiro no comando da seleção. Ainda que não tenha sido confirmada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o italiano Carlo Ancelotti, atualmente no Real Madrid, deve assumir a seleção em junho de 2024, quando acaba seu contrato com o time espanhol.
“Claro que o treinador brasileiro tem uma conexão maior. Ele sente a pressão, porque o coro vai comer. Mas se o cara for bom, competente, não me importo. O importante é que voltemos a vencer uma Copa”, concluiu.
Pepe é um dos cinco jogadores que participaram da conquista em 1958 que ainda estão vivos. Além dele, há também Dino Sani, Mazzola, Moacir e Zagallo.