O atacante Ângelo, do Santos, disse que foi chamado de macaco por torcedores na derrota do Peixe para o Audax Italiano por 2 a 1, nesta quarta-feira, no estádio El Teniente, em Rancagua, no Chile, pela 4ª rodada do Grupo E da Copa Sul-Americana. A informação foi divulgada pelo canal Paramount+.
O insulto racista ocorreu aos 32 minutos do segundo tempo. Ângelo foi substituído para dar lugar a Weslley Patati. O camisa 11 deixou o gramado pelo lado direito do ataque santista para acelerar a substituição e não precisar cruzar o gramado. Foi neste momento que o atleta relatou ter sido xingado e chamado de macaco.
– É incrível. Sai na mídia. Todo mundo repudia, comunica. É incrível como as pessoas não amadurecem. Não aprendem. Basta de racismo. É algo que machuca muita gente. Que a punição seja feita – disse Ângelo, em entrevista ao “De Olho no Peixe” após a partida.
– Tem que ter atitude. Não adianta só falar, divulgar, fazer nota, comunicar. Basta disso, de racismo, de ser cúmplice. Só falar. Tem que começar a ter atitude, punição. Algo que as pessoas olhem e falem que não pode haver mais, que tem que respeitar as pessoas. Não só no futebol, em todos os esportes, no dia a dia. As pessoas não aprendem. É incrível como aconteceu recentemente com o Vinícius Jr. e aconteceu agora. Aconteceu na Libertadores também. É incrível como o ser humano não aprende. Está aqui minha indignação, espero que a Conmebol faça alguma coisa. Que seja atitude, não só comunicado ou hashtag. Tem que ter atitude.
O Santos confirmou a denúncia e informou que comunicou o ocorrido para o delegado da partida. O clube emitiu sobre o caso (leia abaixo na íntegra) para “repudiar com veemência mais um caso de racismo no futebol” e agora aguarda um posicionamento da Conmebol sobre o caso.
O gerente de comunicação do clube, Fábio Maradei, verificou o relatório da partida (súmula) e confirmou a inclusão dos atos contra o atacante Ângelo, presenciado pelo meia Ivonei.
– Foi um torcedor. Quando eu saí eles começaram a me xingar, normal. Coisa de jogo sul-americano. Quando fui chegando perto da bandeirinha para sair, um torcedor me xingou de “mono, hijo de puta” e fazer gestos de macaco. Acabei xingando ele de volta e pedi para o auxiliar fazer algo. Só que, como sempre, as pessoas se omitem, não fazem nada. São cúmplices de atos racistas. É complicado porque a gente fala, faz vídeo, divulga para não fazer isso e as pessoas continuam fazendo. Espero que a Conmebol tome uma ação. Olhem as câmeras do estádio, da televisão e não só fale “basta de racismo”. Que a Conmebol tome atitude – relatou o atacante.
O Santos também denunciou injúria racial contra o Joaquim, após o jogador deixar uma área localizada no 4º andar do estádio, que deveria ser destinada exclusivamente ao Santos, mas que contava com a presença de diversos torcedores do Audax Italiano.
Após a partida, o técnico Odair Hellmann falou sobre o assunto e disse que é necessário que, em casos de racismo, as equipes deixem o gramado e que haja punição.
– Não tenho cargo no clube em que decido e tenho o poder de decidir essas coisas. Eu, no campo de jogo, sabe o que temos que fazer? Sair da partida. Que a Conmebol, que a Fifa, que a CBF busque e puna. Se não tiver punição, vai continuar. É um sofrimento histórico, irreparável. A sociedade como um todo não aceita mais. Se depender de mim, como treinador de jogo, a gente sai de campo. Eu tenho que respeitar a direção, isso não cabe a mim, mas o meu posicionamento é de tirar o time de campo.
O volante Camacho foi informado sobre a situação envolvendo Ângelo apenas após o fim da partida. Ele recordou do caso de racismo contra Vinícius Júnior, sofrido na partida entre Real Madrid e Valencia, pelo Campeonato Espanhol.
– Estamos numa semana com o caso do Vinícius. Eu não sabia disso, fiquei sabendo agora. Triste demais. Espero que ocorra alguma punição. Não dá mais.
Veja nota publicada pelo Santos:
O Santos Futebol Clube, novamente, vem a público denunciar e repudiar com veemência mais um caso de racismo no futebol. Dessa vez, os alvos das injúrias raciais foram nossos jogadores Ângelo e Joaquim. Os dois atletas foram atacados verbalmente e com gestos imitando macacos por torcedores adversários presentes na partida de hoje.
O crime foi denunciado pelo Santos FC, ainda dentro do estádio, para os representantes da Conmebol. Com os dois casos registrados oficialmente, o clube aguarda o posicionamento da entidade diante desta situação inaceitável.
Como já foi dito, o racismo não deve ser apenas combatido, mas também punido severamente.