Uma loja de carros no coração do Tatuapé, bairro da zona leste de São Paulo, chama atenção por dois motivos. O primeiro, claro, pelos vários automóveis importados que são o sonho de consumo de quem ama velocidade e luxo. O segundo é o número de camisas de clubes e seleções de futebol espalhadas por todo o ambiente.
O futebol e os carros importados estão ligados pelo sonho da maioria dos jogadores de futebol em ostentar e ter uma máquina na garagem. Muitos deles, antes mesmo de comprar a casa própria, usam o dinheiro da assinatura do primeiro contrato para comprar um automóvel.
Nesse contexto, um vendedor ganhou fama e muitos seguidores nas redes sociais (são mais de seis milhões) por ser o escolhido pelos jogadores para comercializar carros que podem custar até R$ 2,5 milhões.
Tiago Fernandes, conhecido como Tiago TCar, tem como clientes jogadores da seleção brasileira, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, além de grandes clubes europeus.
Willian, Ederson, Guilherme Arana, Rony, Arboleda, Cazares, Félix Torres, entre outros, já compraram ou ainda compram carros com o vendedor mais famoso do Brasil, como ele se define.
Ex-lavador de carros, motorista e hoje dono da imponente loja no Tatuapé, Tiago revelou como funciona a negociação envolvendo cifras milionárias com jogadores e artistas famosos.
– O jogador nada mais é aquele moleque pobre que fica rico do dia para a noite, assina um contrato e chega numa loja de luxo comprar um carro. Quando ele chega no local e um cara bate-papo de igual para igual, que veio do mesmo lugar, o cara se sente à vontade e começa a indicar para todo mundo. E foi assim que comecei a crescer – disse Tiago.
Seja o primeiro carro ou a realização do sonho de consumo de uma vida, Tiago revela que em média os jogadores gastam R$ 500 mil na aquisição de um automóvel. É comum, por exemplo, quem chegue na loja e acabe levando não só um, mas dois veículos de uma vez.
– O Cazares chegou aqui com o Corinthians jogando mal, em má fase mesmo, para comprar uma BMW X6, viu uma Audi R8 e comprou as duas. Foi coisa de R$ 1,5 milhão, R$ 2 milhões em carro – relembrou o vendedor de negócio feito com o meia equatoriano do Santos em 2020, quando ele atuava no Timão.
Os jogadores que passam pela loja possuem os mais diversos perfis: desde atletas das categorias de base e que ainda buscam espaço no profissional até nomes consagrados com passagens pela seleção brasileira e grandes times europeus.
O patamar financeiro é diferente, mas o sonho de andar com um carrão pelas ruas é o mesmo.
– O Guilherme Arana quando veio comprar carro comigo pela primeira vez, veio com a mãe e o pai. A mãe dele disse que deixaria ele comprar um carro, mas que deveria se esforçar mais e jogar bola. Ele veio aqui, já era o Guilherme Arana, mas teve que pedir permissão para os pais para comprar o carro. Isso me marcou bastante.
– Teve um jogador do Corinthians que veio aqui comprar um carro, ele mal tinha subido para o profissional, comprou um carro top, mas aí pegou mal porque o carro dele era melhor que o do treinador. Ele veio devolver, pegou um carro mais simples porque não era bom para a imagem dele. Rola de ter essa consciência – comentou Tiago, sobre alguns dos negócios fechados.
Pagamento à vista ou no boleto?
E se todo mero mortal usa o financiamento como forma de conseguir realizar a compra de um item mais valioso, por exemplo, os jogadores de futebol também usam o recurso na hora de comprar o carro importado. E Tiago revelou uma curiosidade: a maioria das instituições financeiras reprovam o crédito, mesmo com o alto salário recebido pelos jogadores.
– O jogador tem uma particularidade, quando ele vem aqui para comprar e vai ver um financiamento, as instituições, os bancos não querem fazer financiamento. Eles têm uma fama de mau pagador para os bancos, eles querem recusar na hora. Aí você tem que ligar, explicar que eles ganham R$ 500 mil por mês e usar da sua influência para convencer.
E a fama de mau pagador pode fazer sentido, pelo menos para o vendedor que tem acesso direto a transferências milionárias. Calote? Tiago revela que é comum ficar sem receber o valor combinado. A saída foi não fazer mais vendas a prazo.
– Mas como eles pagam? Tem de tudo, tem o que paga à vista, aquele que paga no prazo e você tem que ficar atrás. De uns três anos pra cá, parei de fazer isso, não vendo carro a prazo para ninguém, porque tive que correr atrás de alguns. Tem de tudo, como qualquer profissão, no futebol tem de tudo.