A formação que a seleção brasileira mandará a campo no amistoso de hoje, 15h30, contra Gana, na França, ilustra bem a forma como o técnico Tite tem renovado o grupo de forma sutil para a Copa do Mundo. De maneira equilibrada e primando pela versatilidade, alia a fartura no ataque, sobretudo com a safra protagonizada por Vini Jr e Raphinha, com criatividade para encontrar soluções defensivas que não deixem o Brasil vulnerável diante de adversários mais fortes.
Para isso, a opção encontrada foi manter Paquetá no meio ao lado de Casemiro, e lançar novamente Militão pela direita, para uma saída com três zagueiros feita por um jogador com “DNA de lateral”. “O campo fala”, avisou Tite. A ideia é que com isso a seleção tenha força pelas pontas, com Vini e Raphinha, e por dentro, com Neymar vindo de trás e Richarlison como um centroavante de movimentação. Sem a bola, o esquema volta a ser o 4-4-2.
— Vou testar o equilíbrio. Paquetá é segundo homem com senso de criatividade. Mas o lateral te dá um equilíbrio defensivo. É criação e gol, mas também consistência — resumiu o técnico.
A decisão de retomar essa faceta mais ofensiva da seleção a dois meses da Copa do Mundo tem uma razão: dar maior entrosamento a um sistema de jogo que torne protagonistas essas caras novas, para que elas sejam o que se espera delas nos jogos contra equipes mais poderosas. Embora a alternativa não seja mandatória para os onze iniciais.
— Nesse momento de chegada apareceram esses jovens diferentes no um contra um — enalteceu o auxiliar Cleber Xavier, que citou a necessidade de testar sobretudo o comportamento defensivo dentro dessa lógica ofensiva.
Embora a seleção tenha um trabalho consolidado, os jovens tem cerca de um ano apenas inseridos dentro desse contexto. Vini Jr apareceu na Copa América de 2021, mas só fez seu primeiro jogo como titular no começo de setembro do ano passado. No total são 14 jogos e um gol marcado, contra o Chile, pelas Eliminatórias. Em seis partidas como titular e oito em que entrou no decorrer do jogo, atuou ao lado de Neymar e Raphinha apenas uma vez desde o começo, diante do Japão, em junho. Contra o Paraguai, em fevereiro, houve o mesmo conceito tático com Paquetá recuado, mas Neymar não atuou.
O crescimento do quinteto ofensivo no começo de temporada na Europa, com algumas trocas de clubes, é um outro argumento para o teste, que não começou a ser pensado agora.
— A função de um meia ao lado de um outro meio-campista é uma continuação de uma observação, temos que olhar estratégias, é pouco tempo — alertou Cleber Xavier.
Agora no Barcelona, Raphinha fez nove partidas pela seleção, sete delas como titular, e marcou três gols. Dois deles na estreia atuando desde o início, contra o Uruguai, no dia 14 de outubro de 2021. De lá para cá, atuou pela ponta direita em todos os jogos para os quais foi convocado.
— Como atacante, quanto mais ofensivo for o esquema, melhor, fica mais perto do gol. Temos nossa característica ofensiva, mas sabemos da responsabilidade defensiva, o que temos de fazer. Trabalhamos muito para isso. Com a bola no ataque, cada um tem sua criatividade — comentou.
Já Militão foi titular em 17 dos 22 jogos que participou com a seleção de Tite, e pode ser considerado um sucessor de Thiago Silva, que completa 38 anos hoje e se despede depois da Copa do Mundo. Por vinte minutos o treinador testou a dupla em campo ao lado de Marquinhos no último amistoso, contra o Japão, em junho, quando sacou Daniel Alves e usou Militão na função. Desta vez, apenas Danilo foi chamado para a lateral direita, e o que pode parecer um improviso se transformou em uma solução moderna, utilizada por seleções e clubes europeus.