Dos problemas enfrentados no Ministério da Saúde durante uma pandemia do novo coronavírus, o ex-ministro Henrique Mandetta aponta para que, na sua opinião, seja o principal: a postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Mandetta, se o presidente adotasse padrões definidos pela pasta para preparar o sistema público de Saúde, o Brasil não estaria entre os países com o maior número de morte da doença.
“Poderia ter sido diferente, para melhor”, disse Mandetta, que lança nesta sexta-feira, 24, o livro Um paciente chamado Brasil, no qual relata os últimos 87 dias de sua gestão.
No período, passou a ser a voz principal na defesa do isolamento social como forma de atenuar os efeitos da pandemia, ao contrário do que pregava o presidente.
O livro, segundo ele, foi escrito na quarentena de seis meses imposta a ministros que deixam o governo.
Ao analisar as políticas de decisões, faz mea-culpa e crítica da Organização Mundial de Saúde (OMS) para relutar em classificar a covid-19 como emergência sanitária mundial.
O foco principal das críticas, no entanto, é Bolsonaro, descrito como alguém em negação anterior do agravamento da doença.
“Primeiro ele negou a gravidade da covid-19, falando que era só uma ‘gripezinha’. Depois ficou com raiva do médico, ou seja, de mim.
Depois partiu para o milagre, que é acreditar na cloroquina “, disse.
Mandetta relata que, antes mesmo do primeiro caso no País, tentou por diversas vezes apresentar dados, projeções e medidas de prevenção a serem retiradas.
Mas, segundo ele, o presidente “sempre arranjava um jeito de não participar”. Nas reuniões ministeriais, afirma, não tinha espaço para falar.
Segundo o ex-ministro, Bolsonaro só viu os dados em uma ocasião, em 28 de março – o País registrava 92 óbitos por covid-19. Mandetta diz que apresentações três projeções, de 30 mil a 180 mil mortes por covid-19 no País.
“Depois de eu ter ficado por uma hora e meia oferecendo todos os elementos que provavam a gravidade do problema, ele revelou que não estava nem um pouco convencido”.
Naquele dia, Bolsonaro disse: “Infelizmente, algumas mortes precisarão. Paciência”. No dia seguinte, o presidente foi a Taguatinga e provocou aglomeração ao circular pelo comércio local.
Medidas
Mandetta diz que, naquela reunião, os demais ministros já estavam convencidos de que o presidente não deveria seguir pelo caminho da negação.
Mas, como exemplo de que o governo negligenciou medidas de prevenção, relata que o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, participou da reunião 10 dias após ser diagnosticado com covid-19 – ignorando o protocolo de 14 dias de quarentena.
O Brasil registrou ontem mais de 139 mil óbitos por covid – o que aproxima o País da estimativa mais pessimista feito pela pasta da Saúde em março.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.